Opinião
- 13 de maio de 2016
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Levando a sério o sofrimento dos cristãos perseguidos
O Instituto Jetro entrevistou a missionária brasileira Antonia Leonora van der Meer, a Tonica, colaboradora da revista Ultimato, autora de Missionários Feridos, Eu, Um Missionário? e uma das organizadoras do livro Sangue, Sofrimento e Fé: a missão cristã em contextos de perseguição. É sobre este último que Tonica fala. Ele foi premiado em 2015 como melhor livro de missões pela ASEC (Associação dos Editores Cristãos). Para ela, a publicação “leva a sério o sofrimento de cristãos em muitos lugares, tanto no passado como hoje”.
O Portal Ultimato republica a entrevista a seguir.
***
“O levantamento global leva a reflexões pessoais”. Esta frase simboliza o que podemos encontrar no livro Sangue, Sofrimento e Fé: a missão cristã em contextos de perseguição. Os temas do livro são vastos, profundos e relevantes. Na verdade, a maioria de nós pouco sofreu por sua fé em toda a sua vida cristã. Neste momento cabe ecoar uma das frases de Christopher J.H. Wright a respeito do livro: “Que este livro enciclopédico impressionante possa estimular lágrimas e orações na medida certa, e quando apropriado, desperte-nos à ação”.
O Instituto Jetro entrevistou Antonia Leonora van der Meer (a Tonica), uma das organizadoras do livro, com o objetivo de despertar a igreja brasileira para uma realidade: a perseguição religiosa acontece neste exato momento nas mais terríveis formas em alguns países, assim como de maneira sutil em muitos outros. Como estamos agindo a respeito?
Tonica serviu com a IFES por muitos anos no Brasil e em Angola. No Centro Evangélico de Missões (Viçosa, MG), foi diretora, coordenadora de desenvolvimento, deã e mentora, trabalhando ali por 18 anos. Possui mestrado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Brasileira, em São Paulo, e doutorado em missiologia pela Asia Graduate School of Theology, nas Filipinas. Escreveu diversos livros em português, incluindo sua autobiografia missionária, Eu, Um Missionário?, e Missionários Feridos, um livro sobre o cuidado de missionários brasileiros em contextos de sofrimento, ambos pela Editora Ultimato. Além de artigos em diversas publicações missiológicas nacionais e internacionais.
Instituto Jetro - O que poderia dizer do livro, do prêmio Areté e o destaque recebido da Aliança Evangélica Mundial?
Tonica - O livro Sangue, Sofrimento e Fé foi primeiro produzido em inglês, pela Aliança Evangélica Mundial, com o título “Sorrow and Blood”. Em português, foi lançado pela Ultimato e eu coordenei a equipe que traduziu e adaptou o texto. O livro leva a sério o sofrimento de cristãos em muitos lugares, tanto no passado como hoje. Há textos teológicos, análises da questão de sofrimento e perseguição, relatos de cristãos que viveram o sofrimento em muitos contextos, e parte sobre como cuidar de pessoas que passam por grande sofrimento, sejam missionários ou cristãos nacionais. Em inglês foi bestseller, e em português recebeu o prêmio Aretê para o melhor livro de missões publicado no ano de 2015. Creio que foi porque é um assunto atual, apresentado de forma equilibrada, que a igreja precisa conhecer para responder adequadamente.
Instituto Jetro - Poderia definir perseguição e a perseguição religiosa?
Tonica - Há vários tipos de perseguição, desde intensamente hostis a levemente hostis. As intensamente hostis podem incluir surras, tortura, prisão, isolamento ou morte. As levemente hostis seriam de natureza psicológica e social, incluindo ridicularização, restrição, provocação e discriminação. Perseguição religiosa acontece quando o fator religioso é a causa principal da perseguição. Trata da negação da liberdade religiosa, ou quando a religião causa desvantagens na vida em sociedade.
Instituto Jetro - O recente relatório "Persecuted and Forgotten?" (2011) da filial britânica da organização Aid to the Church in Need (Apoio à igreja necessitada), calcula que três quartos da perseguição religiosa no mundo seja contra cristãos (p.52). No livro temos ricos testemunhos de cristãos dos mais diversos países do mundo. Na impossibilidade de falar de cada um, poderia ressaltar situações e aprendizados que podemos ter com suas vidas?
Tonica - Há artigos que falam sobre perseguição na Índia, no serviço a populações mais carentes. Mas aí vem a resposta cristã, como da viúva de Graham Staines (p.249). Ele e dois filhos se dirigiam ao serviço dos que sofrem de hanseníase e foram queimados vivos em seu carro. A viúva publicamente declarou que perdoava os malfeitores, e isso foi visto em toda a Índia e tocou muitas pessoas. Podemos aprender que a perseguição não é desculpa para não servir e que qualquer sofrimento pode ser respondido de maneira que glorifique ao Senhor.
Há um relato sobre a Turquia, que mostra a perseguição e o sofrimento que os cristãos têm enfrentado. Praticamente todos são convertidos de primeira geração, eles têm se mantido fiéis e firmes em seu testemunho. Por outro lado mostra que há direitos no país que não existem em outros países. Os martírios recentes têm acontecido pelos grupos radicais. As igrejas existem, têm seus cultos, pregam o evangelho, atividades cristãs nacionais e internacionais têm ocorrido com liberdade. Mas há uma tensão, e cristãos ainda são considerados como inimigos do estado.
Instituto Jetro - Como podemos preparar os que servirão em curto ou longo prazo em países de acesso restrito para evitarem confronto e sofrimento desnecessários? (cap. 2)
Tonica - Precisamos redescobrir e ensinar o ensino bíblico sobre o sofrimento na vida dos que seguem a Jesus. "Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele. (Fp 1.29). E devemos incluir em nosso ensino o que fazer e como responder ao sofrimento, não revidando, mas respondendo de forma que glorifica ao Senhor. E aprender a não sofrer como resultado de ações e atitudes consideradas ofensivas pelo povo a quem servimos.
Instituto Jetro - Vemos no capitulo 3 do livro, que três são as respostas dos cristãos à perseguição: 1) fogem e escapam; 2) aguentam pacientemente; ou 3) eles se levantam e falam contra a perseguição. (fuga, perseverança e luta). Poderia comentar sobre? Quais as respostas que os cristãos têm dado mais? Há outras respostas apropriadas? (p.55)
Tonica - Os cristãos têm respondido de várias maneiras. Pode ser apropriado fugir, não para evitar lugares difíceis, mas em momentos de alto risco. Paulo fugiu de Damasco quando queriam matá-lo, e apelou para seus direitos como cidadão romano para evitar o linchamento pelos judeus. Cristãos têm fugido do extermínio em países como Iraque, Síria e Paquistão. A maioria dos cristãos suporta a perseguição e procura viver sabiamente em meio às restrições impostas, sem deixar de dar seu testemunho, como podem. Muitos vivem unidos e expressam alegria em sua fé. Há ocasiões em que se pode falar contra a perseguição, que muitas vezes viola as próprias leis do país. Isso deve ser feito com sabedoria para não irritar as autoridades e prejudicar as vítimas. Há pessoas ligadas a uma advocacia internacional, preparadas para tratar dessas questões com sabedoria. Em alguns casos cristãos, depois de atacados e violentados, reagem com violência, o que não é um bom testemunho.
Instituto Jetro - Em Mateus 10, Cristo enviou e advertiu os discípulos que haveriam de enfrentar seis diferentes níveis de oposição. (evitados, rejeitados, presos, maltratados, perseguidos e mortos) (p.97). Também fala das fontes de perseguição (a comunidade, a nação, líderes religiosos, membros da sua própria família). Poderia falar sobre eles?
Tonica - Quando Jesus manda os discípulos para uma tarefa missionária, ele os adverte sobre os tipos de oposição que sofrerão, começando com as hostilidades menos severas até as mais graves: vos açoitarão, vos perseguirão, até chegar a: vos matarão. Não significa que todos seus seguidores sofrem todas essas hostilidades, mas que essa oposição faz parte das reações contra o testemunho cristão, assim não devem nos desanimar. Ele também mostra que as fontes da perseguição podem incluir a própria família, os líderes religiosos e políticos. Assim Jesus mostra que não existe lugar seguro, e que precisamos aprender a perdoar e amar nossos inimigos.
Instituto Jetro - As escrituras são claras sobre a inevitabilidade do sofrimento por Cristo e "misteriosamente, às vezes é por meio da perseguição, do sofrimento e do martírio que Deus espalha sua glória e seu nome, tornando-os expressões tanto da espiritualidade quanto da missão cristãs". Como você acredita que a igreja vê esta situação e se prepara para ela? (p.53)
Tonica - Há igrejas que já conhecem a perseguição e que são encorajadas pelos textos que falam sobre o sofrimento por Cristo. Infelizmente ainda há igrejas e cristãos que acham normal ser tratados com respeito, fazer as atividades eclesiásticas, e buscar apoio de políticos para aumentar seus privilégios. Devemos orar para Deus conscientizar nossas igrejas sobre a realidade do sofrimento e da perseguição, começar a nos compadecer de forma prática dos que sofrem e nos preparar para tempos mais difíceis.
Instituto Jetro - O sofrimento parece um conceito estranho para a maioria dos cristãos e das igrejas de hoje em dia, por consequência, em parte, da influência da teologia da prosperidade e do consumismo, que estão ligados à busca por um estilo de vida confortável e o direito de adquirir mais riqueza?
Tonica - Esse é um problema sério, e leva muitas pessoas a uma busca egoísta por mais posses materiais, mais conforto, prestígio e poder. Não há base bíblica para isso. Se olharmos para a vida de Jesus, dos apóstolos e da igreja primitiva vemos que seu testemunho foi de servir com simplicidade, mostrar compaixão pelos que sofrem e mostrar a alegria da salvação em meio ao sofrimento e à perseguição.
Instituto Jetro - Suas considerações finais sobre a missão cristã em contextos de perseguição e a igreja brasileira:
Tonica - Hoje há muitos contextos de risco e perseguição, com grandes necessidades e sofrimento físico e carência da mensagem de esperança e conforto em Jesus. Os brasileiros que estão dispostos a ir e servir em tais contextos não têm uma vida fácil, mas experimentam a alegria e a força do Senhor, que lhes sustenta e capacita. Mas precisam muito do apoio fiel de suas igrejas, em oração, apoio pastoral e financeiro. Há igrejas que entendem e oferecem o melhor que podem, e outras que veem o missionário como um ser especial: “já que ele quis ir mesmo, que Deus cuide dele e que ele aguente”. Essa é uma atitude triste e mostra falta de amor e de responsabilidade.
***
Conheça e participe do Domingo da Igreja Perseguida, promovido pela Portas Abertas. Um dia de sensibilização e mobilização da igreja brasileira em favor dos cristãos que sofrem perseguições.
Nota
Entrevista publicada originalmente no site do Instituto Jetro.
Leia também
Crescimento e radicalização da perseguição: 60 anos da Missão Portas Abertas
Perseguidos, mas encorajados
Para (melhor) enfrentar o sofrimento
Tonica fala sobre o livro Sangue, sofrimento e fé (Vídeo)
Foto: Mulheres cristãs indonésias choram após igreja ser queimada [Reuters].
O Portal Ultimato republica a entrevista a seguir.
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“O levantamento global leva a reflexões pessoais”. Esta frase simboliza o que podemos encontrar no livro Sangue, Sofrimento e Fé: a missão cristã em contextos de perseguição. Os temas do livro são vastos, profundos e relevantes. Na verdade, a maioria de nós pouco sofreu por sua fé em toda a sua vida cristã. Neste momento cabe ecoar uma das frases de Christopher J.H. Wright a respeito do livro: “Que este livro enciclopédico impressionante possa estimular lágrimas e orações na medida certa, e quando apropriado, desperte-nos à ação”.
O Instituto Jetro entrevistou Antonia Leonora van der Meer (a Tonica), uma das organizadoras do livro, com o objetivo de despertar a igreja brasileira para uma realidade: a perseguição religiosa acontece neste exato momento nas mais terríveis formas em alguns países, assim como de maneira sutil em muitos outros. Como estamos agindo a respeito?
Tonica serviu com a IFES por muitos anos no Brasil e em Angola. No Centro Evangélico de Missões (Viçosa, MG), foi diretora, coordenadora de desenvolvimento, deã e mentora, trabalhando ali por 18 anos. Possui mestrado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Brasileira, em São Paulo, e doutorado em missiologia pela Asia Graduate School of Theology, nas Filipinas. Escreveu diversos livros em português, incluindo sua autobiografia missionária, Eu, Um Missionário?, e Missionários Feridos, um livro sobre o cuidado de missionários brasileiros em contextos de sofrimento, ambos pela Editora Ultimato. Além de artigos em diversas publicações missiológicas nacionais e internacionais.
Instituto Jetro - O que poderia dizer do livro, do prêmio Areté e o destaque recebido da Aliança Evangélica Mundial?
Tonica - O livro Sangue, Sofrimento e Fé foi primeiro produzido em inglês, pela Aliança Evangélica Mundial, com o título “Sorrow and Blood”. Em português, foi lançado pela Ultimato e eu coordenei a equipe que traduziu e adaptou o texto. O livro leva a sério o sofrimento de cristãos em muitos lugares, tanto no passado como hoje. Há textos teológicos, análises da questão de sofrimento e perseguição, relatos de cristãos que viveram o sofrimento em muitos contextos, e parte sobre como cuidar de pessoas que passam por grande sofrimento, sejam missionários ou cristãos nacionais. Em inglês foi bestseller, e em português recebeu o prêmio Aretê para o melhor livro de missões publicado no ano de 2015. Creio que foi porque é um assunto atual, apresentado de forma equilibrada, que a igreja precisa conhecer para responder adequadamente.
Instituto Jetro - Poderia definir perseguição e a perseguição religiosa?
Tonica - Há vários tipos de perseguição, desde intensamente hostis a levemente hostis. As intensamente hostis podem incluir surras, tortura, prisão, isolamento ou morte. As levemente hostis seriam de natureza psicológica e social, incluindo ridicularização, restrição, provocação e discriminação. Perseguição religiosa acontece quando o fator religioso é a causa principal da perseguição. Trata da negação da liberdade religiosa, ou quando a religião causa desvantagens na vida em sociedade.
Instituto Jetro - O recente relatório "Persecuted and Forgotten?" (2011) da filial britânica da organização Aid to the Church in Need (Apoio à igreja necessitada), calcula que três quartos da perseguição religiosa no mundo seja contra cristãos (p.52). No livro temos ricos testemunhos de cristãos dos mais diversos países do mundo. Na impossibilidade de falar de cada um, poderia ressaltar situações e aprendizados que podemos ter com suas vidas?
Tonica - Há artigos que falam sobre perseguição na Índia, no serviço a populações mais carentes. Mas aí vem a resposta cristã, como da viúva de Graham Staines (p.249). Ele e dois filhos se dirigiam ao serviço dos que sofrem de hanseníase e foram queimados vivos em seu carro. A viúva publicamente declarou que perdoava os malfeitores, e isso foi visto em toda a Índia e tocou muitas pessoas. Podemos aprender que a perseguição não é desculpa para não servir e que qualquer sofrimento pode ser respondido de maneira que glorifique ao Senhor.
Há um relato sobre a Turquia, que mostra a perseguição e o sofrimento que os cristãos têm enfrentado. Praticamente todos são convertidos de primeira geração, eles têm se mantido fiéis e firmes em seu testemunho. Por outro lado mostra que há direitos no país que não existem em outros países. Os martírios recentes têm acontecido pelos grupos radicais. As igrejas existem, têm seus cultos, pregam o evangelho, atividades cristãs nacionais e internacionais têm ocorrido com liberdade. Mas há uma tensão, e cristãos ainda são considerados como inimigos do estado.
Instituto Jetro - Como podemos preparar os que servirão em curto ou longo prazo em países de acesso restrito para evitarem confronto e sofrimento desnecessários? (cap. 2)
Tonica - Precisamos redescobrir e ensinar o ensino bíblico sobre o sofrimento na vida dos que seguem a Jesus. "Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele. (Fp 1.29). E devemos incluir em nosso ensino o que fazer e como responder ao sofrimento, não revidando, mas respondendo de forma que glorifica ao Senhor. E aprender a não sofrer como resultado de ações e atitudes consideradas ofensivas pelo povo a quem servimos.
Instituto Jetro - Vemos no capitulo 3 do livro, que três são as respostas dos cristãos à perseguição: 1) fogem e escapam; 2) aguentam pacientemente; ou 3) eles se levantam e falam contra a perseguição. (fuga, perseverança e luta). Poderia comentar sobre? Quais as respostas que os cristãos têm dado mais? Há outras respostas apropriadas? (p.55)
Tonica - Os cristãos têm respondido de várias maneiras. Pode ser apropriado fugir, não para evitar lugares difíceis, mas em momentos de alto risco. Paulo fugiu de Damasco quando queriam matá-lo, e apelou para seus direitos como cidadão romano para evitar o linchamento pelos judeus. Cristãos têm fugido do extermínio em países como Iraque, Síria e Paquistão. A maioria dos cristãos suporta a perseguição e procura viver sabiamente em meio às restrições impostas, sem deixar de dar seu testemunho, como podem. Muitos vivem unidos e expressam alegria em sua fé. Há ocasiões em que se pode falar contra a perseguição, que muitas vezes viola as próprias leis do país. Isso deve ser feito com sabedoria para não irritar as autoridades e prejudicar as vítimas. Há pessoas ligadas a uma advocacia internacional, preparadas para tratar dessas questões com sabedoria. Em alguns casos cristãos, depois de atacados e violentados, reagem com violência, o que não é um bom testemunho.
Instituto Jetro - Em Mateus 10, Cristo enviou e advertiu os discípulos que haveriam de enfrentar seis diferentes níveis de oposição. (evitados, rejeitados, presos, maltratados, perseguidos e mortos) (p.97). Também fala das fontes de perseguição (a comunidade, a nação, líderes religiosos, membros da sua própria família). Poderia falar sobre eles?
Tonica - Quando Jesus manda os discípulos para uma tarefa missionária, ele os adverte sobre os tipos de oposição que sofrerão, começando com as hostilidades menos severas até as mais graves: vos açoitarão, vos perseguirão, até chegar a: vos matarão. Não significa que todos seus seguidores sofrem todas essas hostilidades, mas que essa oposição faz parte das reações contra o testemunho cristão, assim não devem nos desanimar. Ele também mostra que as fontes da perseguição podem incluir a própria família, os líderes religiosos e políticos. Assim Jesus mostra que não existe lugar seguro, e que precisamos aprender a perdoar e amar nossos inimigos.
Instituto Jetro - As escrituras são claras sobre a inevitabilidade do sofrimento por Cristo e "misteriosamente, às vezes é por meio da perseguição, do sofrimento e do martírio que Deus espalha sua glória e seu nome, tornando-os expressões tanto da espiritualidade quanto da missão cristãs". Como você acredita que a igreja vê esta situação e se prepara para ela? (p.53)
Tonica - Há igrejas que já conhecem a perseguição e que são encorajadas pelos textos que falam sobre o sofrimento por Cristo. Infelizmente ainda há igrejas e cristãos que acham normal ser tratados com respeito, fazer as atividades eclesiásticas, e buscar apoio de políticos para aumentar seus privilégios. Devemos orar para Deus conscientizar nossas igrejas sobre a realidade do sofrimento e da perseguição, começar a nos compadecer de forma prática dos que sofrem e nos preparar para tempos mais difíceis.
Instituto Jetro - O sofrimento parece um conceito estranho para a maioria dos cristãos e das igrejas de hoje em dia, por consequência, em parte, da influência da teologia da prosperidade e do consumismo, que estão ligados à busca por um estilo de vida confortável e o direito de adquirir mais riqueza?
Tonica - Esse é um problema sério, e leva muitas pessoas a uma busca egoísta por mais posses materiais, mais conforto, prestígio e poder. Não há base bíblica para isso. Se olharmos para a vida de Jesus, dos apóstolos e da igreja primitiva vemos que seu testemunho foi de servir com simplicidade, mostrar compaixão pelos que sofrem e mostrar a alegria da salvação em meio ao sofrimento e à perseguição.
Instituto Jetro - Suas considerações finais sobre a missão cristã em contextos de perseguição e a igreja brasileira:
Tonica - Hoje há muitos contextos de risco e perseguição, com grandes necessidades e sofrimento físico e carência da mensagem de esperança e conforto em Jesus. Os brasileiros que estão dispostos a ir e servir em tais contextos não têm uma vida fácil, mas experimentam a alegria e a força do Senhor, que lhes sustenta e capacita. Mas precisam muito do apoio fiel de suas igrejas, em oração, apoio pastoral e financeiro. Há igrejas que entendem e oferecem o melhor que podem, e outras que veem o missionário como um ser especial: “já que ele quis ir mesmo, que Deus cuide dele e que ele aguente”. Essa é uma atitude triste e mostra falta de amor e de responsabilidade.
***
Conheça e participe do Domingo da Igreja Perseguida, promovido pela Portas Abertas. Um dia de sensibilização e mobilização da igreja brasileira em favor dos cristãos que sofrem perseguições.
Nota
Entrevista publicada originalmente no site do Instituto Jetro.
Leia também
Crescimento e radicalização da perseguição: 60 anos da Missão Portas Abertas
Perseguidos, mas encorajados
Para (melhor) enfrentar o sofrimento
Tonica fala sobre o livro Sangue, sofrimento e fé (Vídeo)
Foto: Mulheres cristãs indonésias choram após igreja ser queimada [Reuters].
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